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terça-feira, 9 de março de 2010

Contribuição de Aninha: crônica de Martha Medeiros

Adorei também essa crônica sobre o que significa ser mulher...

PS: Quantas identificações com os questionamentos implicitos.. rsrsrs

"Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas! E, entre uma coisa e outra, leio livros. Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres. Primeiro: a dizer NÃO. Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero. Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros. Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal. Existir, a que será que se destina? Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si. Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo! Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela. Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante."
(Martha Medeiros)

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Acabo de chegar do colégio onde dou aula(situem-se: rede estadual, em Queimados,à noite, cuja realidade não é das melhores por fatores diversos e de conhecimento público).Voltemos: li, reli e debati com meus alunos a crônica acima. O resultado??? O melhor possível.Fomentar um debate é abrir caminhos pra uma série de fatores interessantes. É poder ver pessoas que nunca falaram em público se pronunciarem, seja com veemência, desenvoltura plena, conhecimento de causa, seja com timidez, com confusões sobre seus próprios sentimentos e questionamentos. Obtive relatos de alunas que já apanharam de seus pais na tentativa de diálogos mais abertos; obtive agradecimentos sinceros pela atividade proposta em sala; obtive respostas inesperadas e valiosíssimas sobre o que é ser mulher na visão de algumas : "ser icansavelmente uma sonhadora, mas não ficar no sonho, ir além, concretizar o que está na mente, sem perder a doçura com as asperezas que encontramos,mas ser forte pra chuchu pra cair, sim, mas não se enterrar num buraco porque, professora, nós não temos vocação pra tatu!"(Vanessa Cristina). E eu, sem nenhuma demagogia, ganhei muito enquanto professora,e mais ainda enquanto mulher, acreditem. Experiência que valerá pra vida toda, sendo divida com vocês.

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  3. Amei saber disso. Fiquei muito feliz por ter sido presenteada com muito carinho dos meus alunos neste dia. Vou seguir o exemplo dessa experiência. Obrigada amiga!

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