Fernando Pessoa
Tenho Tanto Sentimento
Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
Nunca fui muito despertada pela poesia. Muito mais pela preguiça de me debruçar a apreciá-la e menos por não ter paciência a valoriza-la. Poetas me transmitem a sensação de que conseguem organizar muito bem seus múltiplos ou únicos pensamentos, em linhas tão metricamentes calculadas e ainda carregadas de subjetividades. E meu cérebro é sempre um turbilhão de desconcentrados pensamentos. Ou seja, incompatibilidade. Assim, eu acreditava.
Alguns nomes sempre admirei: Neruda, Vinicius de Moraes, Camões, Joao Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector e Fernando Pessoa. No entanto, de poesia sempre tive um conhecimento raso.
Neste sábado assisti uma peça que mudou meu olhar e me fez apaixonar por poesia.Como se as cortinas de uma paisagem bucólica e límpida tivessem corrido bem no meio do meu céu. Não sei ainda por quanto tempo, e nem em que grau de envolvimento vai se sustentar esse novo espetáculo de luz que adentrou meu mundo, mas a emoção da paixão foi arrebatadora.
"A natureza do olhar" é uma peça com texto de Fernando Pessoa com atuação de Elisa Lucinda e Geovana Pires. Elisa e Geovana encarnam os personagens Alberto Caeiro e Álvaro de Campos --heterônimos de Fernando Pessoa. Baseado no texto de Álvaro de Campos, "Notas para a Recordação de meu Mestre Caeiro", elas me invadiram e dominaram todos os meus sentidos e idéias com a mesmissima intensidade. Seria possivel perder o fôlego por enxergar uma tempestade de estrelas caindo na sua direção? Vindas do infinito, para um universo que também mora dentro de mim. Foi assim, foi fantástico.
Primeiro elas nos receberam antes de começar a peça na entrada do teatro. Aquele clima de glamour que geralmente envolvem as atmosferas dos artistas, foi quebrado. Entendi e gostei, disso: "olhem, estamos aqui porque amamos a arte. E gostariamos de partilhar com vocês exatamente isso, do fundo da alma". Encerrou-se a distância, humanizou-se quem costuma ser tratado com diferença. Que podem se traduzir em (in)diferenças...
Depois elas explicam o que são heterônimos. A mim, explicação bastante elucidativa e que me fez ver a peça por outro ângulo do que eu teria se não fosse essa preocupação das atrizes. Mais um ponto!!!!!!
Os heterônimos, de forma breve, sao personagens com biografia e tudo, almas próprias criados por um determinado poeta para assinar a sua obra sendo ele, o poeta, mas também sendo um outro alguém.( que também é ele mesmo). Marca registrada de Fernando Pessoa.
E depois, o texto deste incrivel poeta que é Fernando Pessoa. Um homem (me fez lembrar a historia de Kant) que nasceu na Africa do Sul e partiu para Lisboa de onde jamais saiu. A mim, um pequeno gênio notável pra traduzir tão bem e sutilmente a linha tênue entre pensamentos e sentimentos.
Com uma atuação estupenda de ambas as atrizes, com uma interação incrível entre elas em cena, a peça fala por si só. Tocou de verdade meu coração. Meu lado Caeiro apareceu ao se identificar em Álvaro de Campos, bem mais presente sempre. Todos somos um.
Ameeeiii seu blog... Foi um amigo em comum que indicou! Dá uma passadinha no meu e vê se gosta! Beijosssss
ResponderExcluirÉ o Alexandre!!! Ah que bom que gostou!!! (Respondi no Formspring tb) Vou seguir aqui! Tem twitter? Beijos
ResponderExcluirIh amiga!! Poesia também é arte, assim como o cinema que você ama tanto! Toda arte vale a pena ser apreciada.
ResponderExcluirHahaha! ok... Eu me rendi! É verdade! Vamos sim! Pois é... Vou ver a opção lá! Comenta?! rs Beijocas enormes pra ti!
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