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quinta-feira, 22 de julho de 2010

"... um rio carregado de saudade vem correr na minha veia..."

Começos, meios e fins. Esse é o ciclo renovador da história das pessoas, do mundo, das coisas. Hoje nem vim tanto pra filosofar, vim mais pra falar que o movimento é eterno. Elementos invadem nossas vidas com a devida importância e de repente se esvaem. E, logo, outros entram pra recontinuar. E, já dizia, Moska, tudo novo de novo.

Um fim que lamentei: Cordel do Fogo Encantado.


O site oficial publicou três informes oficiais: de Lirinha (vocalista), de Antônio Gutierrez (produtor) e  Clayton Barros (violonista) com explicações sobre o fim da banda no inicio de julho.  O que era uma peça teatral na cidade de Arcoverde, interior de Pernambuco, ganhou o mundo-Brasil através de festivais e se transformou, a meu ver, no espetaculo musical de maior originalidade até então do nosso país. Com a mistura de poesia, espiritualidade, teatro, circo, cordel, repente, batuques africanos, nordestinidade, ali se apresentava uma brasilidade regional que poucos do mundo dito central do Sudeste brasileiro estavam acostumados a assistir, ter contato. Um das vertentes que mais me encantavam em relação a banda, era a capacidade energética que eles tinham de comover o seu público que entrava num verdadeiro transe durante o show. A convocação da platéia a sentir o sobrenatural pra evocar a esperança pra cuidar e repensar os problemas tão fisicos, tão da terra que calejam o povo sertanejo. Segundo palavras anteriores, do próprio Lirinha, O "encantado" ressaltaria a visão apocalíptica e profética dos mistérios entre o céu e a terra.

O grande hino: Chover. Segundo a lenda/mito que envolvia essa música da banda, todas as vezes que a música era tocada e Lirinha sentia o sobrenatural, realmente chovia. (durante, ou depois...) Aos descrentes e supersticiosos: todos os shows que fui realmente choveu...



Chover (ou Invocação Para Um Dia Líquido)
Cordel Do Fogo Encantado
Composição: Lirinha; Clayton Barros


"O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove*

Chover chover
Valei-me Ciço o que posso fazer
Chover chover
Um terço pesado pra chuva descer
Chover chover
Até Maria deixou de moer
Chover chover
Banzo Batista, bagaço e banguê


Chover chover
Cego Aderaldo peleja pra ver
Chover chover
Já que meu olho cansou de chover
Chover chover
Até Maria deixou de moer
Chover chover
Banzo Batista, bagaço e banguê


Meu povo não vá simbora
Pela Itapemirim
Pois mesmo perto do fim
Nosso sertão tem melhora
O céu tá calado agora
Mais vai dar cada trovão
De escapulir torrão
De paredão de tapera*
Bombo trovejou a chuva choveu
Choveu choveu
Lula Calixto virando Mateus
Choveu choveu
O bucho cheio de tudo que deu
Choveu choveu
suor e canseira depois que comeu
Choveu choveu
Zabumba zunindo no colo de Deus
Choveu choveu
Inácio e Romano meu verso e o teu
Choveu choveu
Água dos olhos que a seca bebeu
Quando chove no sertão
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde um boi pisa se atola
E a fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola**

Seu boiadeiro por aqui choveu
Seu boiadeiro por aqui choveu
Choveu que amarrotou
Foi tanta água que meu boi nadou***

E, "Na veia", um outro hino da banda, me remete a saudade que vou sentir.

Na veia: "... um rio carregado de saudade vem correr na minha veia..." isso vai ficar....


Um comentário:

  1. É... Assim viramos mais uma linda e marcante página de nossa geração. O tempo, implacável, trata de tornar tudo de concreto em finito. Mas à nós, restam infinitas, as marcas de tanto viver.

    E só pra ficar no clima do blog, vai um Pessoa para atestar o agora dito:

    Eu amo tudo o que foi,
    Tudo o que já não é,
    A dor que já me não dói,
    A antiga e errônea fé,
    O ontem que dor deixou,
    O que deixou alegria
    Só porque foi, e voou
    E hoje é já outro dia.

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