Sou professora. Mas sequer escolhi ser. Escolhi a carreira mas não a forma como atuar profissionalmente. Confuso? Também não imaginaria que minhas opções gerariam essas possiveis interpretações mas é exatamente disso que se trata.
Escolhi saber das coisas da vida social e do homem, fugir da alienação que é afrouxada principalmente pela busca de conhecimento através da educação. Acreditava na necessidade pessoal de investigar o lado crítico do mundo pra entender melhor dele. No entanto, nao creditava ou ao menos me preocupava com aquilo que completa essa relação com vigor: aprender das coisas para re-transmitir a outros. Com isso, nunca havia me preocupado muito. E, também não era capaz de ver o quanto a relação do conhecimento só existe nessa via recíproca, ubíqua, intrinsecamente costurada.
Comecei a lecionar quando ainda não tinha refletido sobre a prática do que era ser professora. Iniciei antes de me formar, numa experiência valiosa, mas pouco referenciada para a fase que vivia. Me joguei na prática sem questionar os laços teóricos, sem aprender antes a desejar ser o que eu vivamente me tornava.
Meu primeiro ano foi colorido com a novidade de trabalhar, de me testar, de ficar eufórica com o que eu já conseguia ser. Encontrei muito carinho e afeto e voei pra construir mais um de meus muitos eus. Um EU novo mas que ainda nao mensurava o quanto ele se tornaria tanto de mim e mais se enraizaria pelo meu verbo ser. Não calculei os percalços e vieram os tombos....
Comecei a terapia. Quanto mais me jogava no cotidiano daquilo que eu mais contribuia pra me tornar, que são as atividades que mais consomem do nosso tempo social, mais me sentia afundando. Angústias, contagens regressivas, cinzas, aversão, incertezas, ansiedade, queixas, crises existenciais. E mais terapia.
Lendo isso tudo acima, tenho vontade de dar grandes risadas, porque hoje me emocionei com uma singela homenagem de uma escola que dedicou uns instantes do seu espaço-tempo a me lembrar o quanto é importante ser professor. E, hoje, meramente recuperada das crises, mesmo que com tantas ambições futuras gigantes e diferentes do que hoje sou, me orgulho do meu EU professora. Ser professor pra mim ultrapassou barreiras tão profundas que tinha construido sobre mim mesma, que ainda me surpreendo com as mudanças tão minhas que encontro. Não é uma profissão do prestígio remunerado, nem da vaidade reconhecida através do respeito alheio, nem do glamour das artes, nem do sossego do contato com a natureza. No entanto sempre foi e é essencial às pessoas. Ela transmite energia do bem e isso é sempre bom perpetuar.
E, hoje, já enxergo o que me mantém presa ao que sou: contribuir mesmo que incalculavelmente para modificar as perspectivas dos mais diversos seres humanos para se tornarem alguém melhor. Esse melhor pode ser através de uma gratificante profissão; da descoberta de um dom a se dedicar e brilhar.
Um melhor que faz de uma menina ser uma melhor mãe. De um irmão alguém mais generoso entre os familiares. De um ser humano orgulhoso aprender a pedir desculpas. De um namorado arrependido de errar enviar uma rosa a sua amada. Que alguém fique melhor ao olhar para o filho depois de uma conversa e perceber onde pode melhorar. De amar e respeitar pessoas importantes pelo que elas são e nao pelo que venham representar para o mundo. E, com isso, me tornar sempre um ser humano melhor também.
Um melhor que faz de uma menina ser uma melhor mãe. De um irmão alguém mais generoso entre os familiares. De um ser humano orgulhoso aprender a pedir desculpas. De um namorado arrependido de errar enviar uma rosa a sua amada. Que alguém fique melhor ao olhar para o filho depois de uma conversa e perceber onde pode melhorar. De amar e respeitar pessoas importantes pelo que elas são e nao pelo que venham representar para o mundo. E, com isso, me tornar sempre um ser humano melhor também.
Hoje estou feliz porque vejo a contribuição que posso trazer de bem ao mundo ao ser professora.